Sagas – Sempre é tempo de magia... e espadas
Resenha de Sagas - Espada e Magia, V1
Por Tânia Souza
Caminhe por um tempo no qual a espada é a lei. Prepare-se para obstáculos cujo poder vai além do que se acredita ser a realidade: feiticeiras e criaturas de eras inomináveis aguardam. Tem cuidado! Há traições, armadilhas, acordos de honra, calabouços, corredores obscuros e combates sangrentos. Deleite-se com heróis e heroínas cujas mãos são tão perigosas quanto o aço que manejam numa dança macabra. E por fim, saboreie as mais valiosas recompensas: ouro e outros tesouros inigualáveis, pedras sagradas, a honra, a salvação da humanidade, o sabor da vingança e talvez... o direito à própria vida.
Este é o universo de Sagas – Espada e Magia, da Argonautas Editora. Um projeto que retoma a tradição das histórias de espada e magia e amplia este horizonte na LitFan brasileira. Cesar Alcázar, Duda Falcão, Georgette Silen e Rober Pinheiro são os autores desta aventura literária. Já comentei antes o quanto gosto de prefácios, pois em Sagas, o prefácio de Roberto De Souza Causo merece uma leitura à parte, apresentando, além de um breve histórico, os mais importantes elementos do gênero. A belíssima ilustração de capa é de Nathan Thomas Milliner. Tanto para quem já é fã, quanto para quem não conhece o gênero, o livro é um presente e tanto. Pequeno (144 páginas em formato bolso, ou quase), ótimo para se carregar para todos os lados, narrativas curtas e de qualidade, com preço bem acessível. Poderia ser maior, fica a sensação que termina muito rápido.
Lágrimas do Anjo da Morte, de Cesar Alcázar, é a primeira noveleta. No litoral de Eaglach, quando as espadas já estavam silenciosas na desolação do campo de batalha, e apenas os mortos integravam a paisagem, um guerreiro sombrio está mortalmente ferido. O mercenário Anrath, o Cão Negro de Clontarf encontra-se com uma agente da morte, a belíssima e misteriosa Banshee. Desse encontro, inicia-se a saga de um herói resgatando uma dívida de vida e morte. Entre pântanos, areia coberta por sangue e labirintos sombrios, o mercenário enfrentará magia e criaturas mais antigas que a própria história. Anrath é um personagem que, ainda que letal, apresenta um olhar reflexivo sobre seu lugar em um mundo no qual sua existência sempre fora marcada por batalhas sangrentas. Nessa noveleta, que também apresenta alguns elementos do folclore irlandês, há certa melancolia que gostei muito, claro, sem perder o foco na ação. Ou então, eu que estava melancólica quando li.
A segunda narrativa é de autoria de Georgette Silen, em A Cidadela de Élan, uma guerreira solitária está à procura de um elemento fantástico, cuja importância vai além de qualquer individualidade. A cidade dos ladrões é fascinante e mais ainda o é Baltazar, o Rei Ladrão. Num cenário decadente, onde proscritos e sombras espreitam; antigas promessas, honra, magia, força e traição se entrelaçam quando o que está em jogo é um poder maior que todos. Kira, a princesa de Hisipan, nascida e criada para lutar, precisa superar desafios e fazer escolhas de dimensões inusitadas. Como sempre, a prosa de Georgette nos transporta ao universo literário com facilidade.
Em A Dama da Casa de Wassir, de Rober Pinheiro, Atha’ny, um príncipe guerreiro dos shoar’ym tem em seus caminhos obstáculos inimagináveis. Além de testes de coragem, honra e habilidade, prepara-se para o seu casamento com Aysha, uma guerreira tão poderosa quanto ele. E uma prometida relutante. Um casamento arranjado para selar a aliança entre duas sociedades que têm em comum a valentia, a coragem e a força... Segundo o prefácio, a narrativa se constrói no mesmo universo do romance Lordes de Thargor: o Vale de Eldor. Pois bem, o cenário descrito é fascinante, assim como os clãs, os costumes, a caracterização dos personagens e outros pequenos detalhes que só enriquecem a trama. Do encontro dos protagonistas, surgem desafios inusitados, magia, traição, feitiços e a presença da morte à espreita. Este é um dos meus favoritos no livro.
Tanto A Cidadela de Élan quanto A Dama da Casa de Wassir, trazem em comum uma característica que me inquieta um pouco ( e que nem sempre dá certo): as aventuras têm um fim, mas nem de longe a saga dos personagens parece encerrada, são narrativas que deixam espaço para novas aventuras, mas, principalmente, sobram ao leitor indagações sobre o destino (e o passado) dos personagens. Espero saciar essa curiosidade em breve.
Duda Falcão, em Sem Lembranças Daquele Inverno traz personagens tão sombrios quanto às vielas por onde caminham no Porto de Dartmor. Um servo que teme e sofre com a crueldade de seu senhor procura por Atreil, o mercenário. Por meio das descrições de tabernas, piratas, guerreiros embriagados e prostitutas desnudas, um ambiente decadente se materializa. Feiticeiros disputando uma jóia mística, florestas sombrias, vingança, reviravoltas, magia poderosa, um mercenário destemido e ambicioso, lobos e outros animais ferozes esperam pelo leitor. Algumas cenas de enfrentamento poderiam ter se estendido mais no entanto, o texto mantém um bom ritmo nos eventos narrados. Um elemento interessante nessa narrativa é a ótima caracterização dos personagens, indo além do protagonista; o anão, servo de Gimedjin, por exemplo, tem personalidade marcante.
São quatro narrativas nas quais que o gênero é explorado com todos os seus elementos básicos: muitas batalhas, ação, magia, buscas por artefatos fantásticos e criaturas terríveis. Clichê? De maneira alguma, é o que mais se espera de uma história de espada e magia. Guerreiros e guerreiras praticamente invencíveis, que seguem seu próprio código de honra ou de sobrevivência. Cenários fantásticos, decadentes ou sombrios; sentimentos comuns ao ser humano como a ambição, traição, paixão, ódio e medo, entre outros, dão um tom a mais aos contos e, por fim, ainda que sejam contos de um mesmo gênero, o estilo único de cada autor oferece ao leitor atmosferas diferenciadas e uma leitura que não cansa.
Sagas, da Editora Argonautas, foi um passo importante para a fantasia heroica, espero com ansiedade para ler Sagas Vol II - Estranho Oeste.
2 comentários:
Olá, Tânia! Muito obrigado pela resenha. Fico muito feliz por você ter gostado do livro. Sim, minha noveleta é bem melancólica mesmo, é intencional. Eu sou um cara meio melancólico :)
Grande abraço!
Cesar Alcázar
Olá Tania,
Muito bacana tuas impressões do livro. O Sagas foi um presente que ganhei do Duda e do Cezar, a oportunidade de trabalhar com uma parte do meu universo de fantasia que apenas tinha aparecido no livro.
Os Midh'raÿ são um povo orgulhoso e de tradições bem peculiares, e com toda a certeza você ainda verá muitas aventuras deles.
Grande abraço e parabéns pelo blog ;)
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