20 de out. de 2010

Os mortos-vivos - Peter Straub

Os mortos-vivos: um mergulho nas sombras

Resenha de Tânia Souza

         Um livro inquietante, perturbador e surpreendente. Para leitores que apreciam LitFan de qualidade, impossível não ler. No entanto, como resenhar Os Mortos Vivos sem comprometer a saga tão bem construída pelo autor? Esta foi uma questão que surgiu assim que terminei a leitura dessa incrível narrativa. Ao mesmo tempo, a necessidade de compartilhar minha experiência de leitura de um dos mais bem escritos livros de literatura fantástica contemporânea exigiu uma resenha. Então, começo recuperando as primeiras palavras com as quais o leitor tem contato em Os mortos Vivos.
            Qual foi a pior coisa que você já fez? Não vou contar, mas lhe direi qual foi a pior coisa que já me aconteceu... a mais terrível...
           
Assim começa o prólogo, um convite a insanidade que só será explicado muitas páginas depois. Seja lá qual tenha sido a pior coisa que você, leitor, tenha feito ou vivido, estará de volta de nos sentimentos e no grau de tensão e suspense com que Peter Straub lhe apresentará as páginas seguintes. O fantástico no gênero sobrenatural ganha fôlego e um olhar inédito em Os Mortos Vivos.
            Tudo acontece, ou quase tudo, na tranquila cidade de Milburn, onde a Sociedade Chowder parece esconder mistérios inusitados. Formada pelos amigos Ricky Hawthorne, John Jaffrey, Sears James e Edward Wanderly, que se reúnem duas vezes por mês para contar histórias. Não qualquer história, mas sim, histórias de fantasmas.  Quando Milburn começa a ser palco de inúmeros e inusitados eventos, todos parecendo relacionar-se a Sociedade Chowder e seus fantasmas individuais, seus componentes percebem que precisam de ajuda. É neste cenário em que a insanidade parece comprometer os fatos reais que o escritor Donald Wanderly, sobrinho de Edward, entra em cena. Os eventos inusitados tendem a aumentar com a chegada de Donald, entrelaçando integrantes das histórias, pessoas do passado, pecados e culpas de outras e fantasmas particulares de cada um dos personagens.
            Mas em Os Mortos Vivos nada é o que parece, ao mesmo tempo em que percebemos sentimentos e gestos tão humanos, Straub nos apresenta a criaturas indescritíveis, cruéis e tão antigas como o próprio homem. Os inúmeros personagens ganham vida durante a narrativa de tal forma que, cada um deles é o nosso herói, o nosso vilão favorito. É preciso desconfiar da paisagem que Straub nos oferece. A narrativa não linear, simultânea, complexa, sedutora envolve de tal forma o leitor que sentimos cada medo, cada emoção, cada instante de pavor e angústia dos personagens que acompanhamos por longos momentos. O enredo é extremamente criativo, eventos e momentos insuspeitos se integram e surpreendem o leitor, aliás, surpresa é o que não falta em Os Mortos Vivos.  Esteja preparado. Não há momentos mornos na narrativa. Apenas alguns nos quais a tensão vai ao máximo e logo o leitor estará tão envolvido no universo do sobrenatural que até mesmo as horas são esquecidas. Li Os Mortos-vivos em menos de uma semana, desvencilhar-me do fascínio dos personagens levou mais tempo. Encontrar outro romance fantástico do gênero terror que me prendesse tanta atenção assim ainda não aconteceu. 


Título Original: Ghost Story
Peter Straub, 1979
Tradução de A.B. Pinheiro de Lemos
Editora Nova Cultural.

Nenhum comentário:

Seguidores

 

© 2009À LitFan | by TNB