Elas...
Mulheres! Sombrias, instigantes, apaixonantes. Inusitadas, crueis, guerreiras. No universo literário em geral e em diferentes mitologias, personagens femininas venceram estereótipos, brincaram e provocaram as mais diferentes reações. Medo, admiração, espanto, paixão... a lista só aumenta. E o que começou como uma brincadeira, uma deliciosa futilidade literária, como gosto de dizer; com as colaborações de escritores tão diversos, e principalmente leitores, revelou um retrato muito interessante sobre a presença do feminino - como personagem - na literatura e no imaginário do leitor.
Então, vamos a elas...
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Celly Monteiro
Eu sou fã da escrita delicada e poética dessa moça, Celly Monteiro (@Cellymonteiro) do blog A Fantasista, mesmo em contos de terror, consegue uma suavidade impressionante. E a personagem escolhida por ela já esteve nas considerações anteriores, uma vampira que impressionou vários leitores.
"Com certeza foi a Cláudia, a vampirinha infantil da Anne Rice no livro Entrevista com o Vampiro. A Cláudia era uma esfinge em sua figura: pequena, mas de uma mente vigorosa, calculista, manipuladora, melancólica, perversa, orgulhosa ao tempo que transparece uma imagem inocente e delicada."
Tenho que concordar, crianças, ou no mínimo, a aparência delicada transfigurada em ferocidade é mesmo impressionante.
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Nikelen Witter
Nikelen Witter (@NikelenWitter), do blog Sapatinhos Vermelhos, - cuja leitura eu recomendo em doses constantes - é escritora, historiadora, pesquisadora, professora e persona muy querida, e nos trouxe uma colaboração riquissima, por meio de uma das figuras que mais me fascinaram em histórias de amor e sombras.
"Não tenho grande atração por vilões, de qualquer gênero. Quando um personagem me atrai, mais que outros, é por sua complexidade. Por este motivo, destaco uma personagem capaz não apenas de impressionar os leitores com sua personalidade poliédrica, como também de causar os mais diferentes tipos de sentimentos nos que entram em contato com ela. Falo de Medeia, a bruxa parente de Circe, que Jasão trouxe consigo da Cólquida. Não há como ser indiferente a esta personagem que aparece como uma heroína semelhante à Ariadne (do mito do Minotauro), pois trai seu povo por amor.
Da mesma forma que Ariadne, é levada pelo herói Jasão que, mais correto que Teseu, não a abandona e casa-se com ela. Medeia, porém, é uma mulher de extremos. Para garantir sua fuga e da nau dos Argonautas, ela mata o próprio irmão e o despedaça para que o pai – que os persegue – se atrase recolhendo os pedaços do menino a fim de dar-lhe a devida sepultura. Contudo, há dúvidas sobre seu crime mais conhecido: o assassínio dos próprios filhos.
Medeia foi traída e abandonada pelo marido e, sim, matou sua rival e todos os que se aproximaram dela, fazendo uso com suas artes mágicas/envenenadoras. Porém, as tradições mais antigas falam que seus filhos foram apedrejados pela população de Corinto, enfurecida após a morte de sua princesa e rei pelo mal epidêmico que se espalhou por todo o palácio. A versão mais conhecida, no entanto, é a relatada por Eurípedes em sua tragédia teatral, quando, numa vingança fria contra o marido, Medeia mata os próprios filhos."
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Flávio de Souza
Meu querido amigo e escritor Flávio de Souza - especialista em contos de terror envolvendo folclore, super recomendo uma visita as suas páginas virtuais - nos enviou como colaboração uma personagem que ficou marcada para ele, não pelo aspecto sombrio, e sim, pela força que transmite.
Meu querido amigo e escritor Flávio de Souza - especialista em contos de terror envolvendo folclore, super recomendo uma visita as suas páginas virtuais - nos enviou como colaboração uma personagem que ficou marcada para ele, não pelo aspecto sombrio, e sim, pela força que transmite.
Então, vou citar uma personagem do meu livro predileto, IT, do mestre Stephen King, trata-se de Beverly Marsh, a única menina do Loser´s Club. Ela, quando criança, sofre demais nas mãos do próprio pai, mas, ainda assim, encontra forças, não se sabe de onde, para superar as humilhações e abusos físicos. Além, é claro, de ter de lutar contra um medo que só ela pode enxergar dentro de casa. Tentando encontrar um sentido na vida, ela se encanta emocionalmente com o líder do restrito grupo de amigos,e, ao mesmo tempo, desperta a paixão em um outro colega.
Ao longo da jornada contra o demônio, ela tem de fazer um sacrifício que muitas não conseguiriam para manter o grupo unido. Cabe a ela, ainda quando criança, a difícil tarefa de liquidar a criatura que aterroriza a cidade, isso por conta das suas habilidades. A capacidade de Beverly surpreende seus amigos, mas, obviamente evidencia o potencial de uma mulher quando determinada.
Quando cresce, vendo-se mais uma vez presa nas garras de um homem dominador, ela não hesita em lutar contra esse medo e decide, por conta de um pacto feito com os amigos, voltar para a antiga cidade e lutar novamente contra um horror ainda maior. Como prêmio pela vitória contra o demônio, ela, finalmente, encontra o verdadeiro amor vindo de onde jamais imaginou (ou pelo menos não conseguiu ver anteriormente). Palmas para Bev, uma mulher guerreira. É isso aí!
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Valentina Ferreira
As impressões de leituras e personagens nos despertam reações diversas e certas figuras nos acompanharam para sempre. A escritora Valentina Ferreira (@ValentinaSFerr), escolhe uma personagem deveras complexa: Lolita.
“A minha personagem favorita é - e dificilmente será ultrapassada por outra - Dolores Haze, a maliciosa Lolita do livro com o mesmo nome, de Vladimir Nabokov. Na verdade, eu nem sei o que sinto por ela. É um misto de sentimentos que se baralha dentro de mim: amor, pena, ódio, vontade de proteger, vontade de brigar; ela diverte-me com o seu jeito aéreo e infantil; ela incomoda-me com a forma sedutora como trata o padrasto; ela faz-me chorar e ficar com raiva e querer entrar no livro. Ela é boa e má, ao mesmo tempo. É adorável e detestável. Criança e mulher. Indefesa e provocadora.
Ou como diz Humbert Humbert, ‘Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.’ Eu suspiro com este início. Tão simples, mas demonstra, facilmente, a complexidade de Lolita.”
Ou como diz Humbert Humbert, ‘Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.’ Eu suspiro com este início. Tão simples, mas demonstra, facilmente, a complexidade de Lolita.”
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Thasyel Fall
E para finalizar o post de hoje, porque amanhã tem mais, Thasyel Fall, a senhorita Terrível Mor. Dona de uma escrita inusitada, escreve contos e roteiros com nos quais brinca com as ideias e palavras, desconstrói mitos e ao mesmo tempo, fala de coisas sérias. Ainda quero ler muitas de suas histórias. E como personagem favorita, ela, A Madrasta da Branca de Neve:
E para finalizar o post de hoje, porque amanhã tem mais, Thasyel Fall, a senhorita Terrível Mor. Dona de uma escrita inusitada, escreve contos e roteiros com nos quais brinca com as ideias e palavras, desconstrói mitos e ao mesmo tempo, fala de coisas sérias. Ainda quero ler muitas de suas histórias. E como personagem favorita, ela, A Madrasta da Branca de Neve:
"De todas as vilãs de contos de fadas, eu fico com a madrasta da Branca de Neve, porque ela é linda, poderosa, soberana e vai direito para os ‘finalmentes’.
Nada de prender a princesinha em uma torre, ou fazê-la de empregada, ou colocá-la sob um feitiço — esse era o plano inicial né, quando a situação aperta você acaba fazendo exceções — ela manda logo que arranquem o coração da moça, para que ela possa comê-lo no jantar; se isso não é apavorante e genial, eu não faço idéia do que seja.
É claro que no fim, como toda bruxa, ela acaba apelando para a magia, se não fosse o pequeno detalhe das letras miúdas do feitiço — o feitiço será desfeito na presença de um beijo de amor. Se houver algum príncipe nas proximidades, evite este feitiço, (pena que ela não leu) — fazer o que.. E ah, claro, adoro mulheres que conhecem o poder de um bom acessório: o espelho fantástico, muito melhor que um GPS e você ainda pode retocar a maquiagem, tudãooo.
OBS: pena que ela pira um pouquinho no final — carma de vilã né — se transformar em velha; inteligente, mas nada atraente."
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E amanhã tem mais, personas, muito obrigada pela colaboração, leituras e impressões ^^
4 comentários:
Nossa, ficou muito legal essas postagens, Tânia. Poxa, é verdade, a Medeia da medo!
Oi Celly, obrigada pela participação, na verdade,estou aprendendo muito com estas postagens. De carros a deusas, uma semana feminina bem diferente.
O conjunto todo ficou muito bom. Excelentes lembranças. Parabéns pela ideia Tânia. Mas confesso que fiquei entre Medeia e a Rainha de Copas. Optei pela mais sinistra. A Rainha de Copas me faz rir e, por vezes, me dá vontade de incorporá-la: "Cortem as cabeças!" (risos). Beijo!
A Rainha de Copas é figura essencial nesta lista, tanto que foi lembrada pelo Rochet Tavares, mas a Medeia, de fato, tem uma carga de paixão e drama difícil de ignorar, muito obrigada pela excelente colaboração Nikelen.
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