8 de mai. de 2011

Nômade, de Carlos Orsi

Nômade, de Carlos Orsi

Resenha de Tânia Souza


Uma agradável aventura literária aguarda o leitor que embarcar na Nômade. Em uma jornada repleta de perigos e surpresas, a narrativa explora, nos passos dos jovens protagonistas, tanto os aspectos primitivos de uma floresta quanto os mistérios de uma astronave imensa. Nômade, de Carlos Orsi é uma obra destinada ao público juvenil, mas é também indicado ao leitor que aprecie uma história de aventura e ficção cientifica em linguagem simples, porém bem escrita e contextualizada. A bonita capa e as ilustrações são de Renato Alarcão. 

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O garoto se esconde do vento. Tem medo que possa levar o seu cheiro até a criatura que persegue. Esconde-se em arbustos, árvores e não perde a fera de vista. Nas mãos, a lança de pedra e na cintura, uma trombeta de concha amarrada. O javali é enorme, exibe presas amareladas e olhos vermelhos, enquanto solta roncos assustadores. Não é um jogo virtual, como está acostumado, é real. Este é Peleu, em seu primeiro acampamento. Mas a aventura não começa nessa caçada, a aventura tem começo há duzentos anos, quando a astronave Nômade deixou a Terra. Destino? Um planeta distante que deverá ser colonizado pela tripulação, que se divide em três tribos: Argos, Dárdano e Arcádia. Um supercomputador chamado Nestor é o responsável pelo funcionamento da astronave.

Os tripulantes são treinados em diversas situações para a vida nesse planeta. Um dos treinamentos é o acampamento, onde jovens de cada tribo devem aprender, além da convivência, como sobreviver em um ambiente semelhante ao que irão encontrar, contando com recursos ínfimos. O objetivo é aprender a viver “naquele e daquele” mundo que os espera.  O acampamento acontece na floresta, uma estrutura artificial que se constitui como uma selva completa, com feras, rios, colinas e insetos, inclusive os mais peçonhentos. Uma imitação do ambiente que deve existir no planeta para onde se dirigem. Uma imitação onde os perigos são reais, mas o socorro está próximo.  

Os jovens Peleu, Helena, Autólico, Perséfone, Febe e Nausícaa nasceram na Nômade e, no acampamento, aprendem na prática princípios de cooperação e sobrevivência. Quando esse cenário começa a se transformar de forma inesperada e criaturas até então inofensivas atacam, com as situações de risco aumentando, percebem que algo inesperado aconteceu e aparentemente, estão sozinhos. E em perigo. Os incidentes indicam que há algo errado na Nômade, e a ausência de contato com Nestor comprova isso.

A variação do espaço narrativo é algo muito bem trabalhado e enriquecida pelos contrastes: enquanto os demais esperam no acampamento, no ambiente mais selvagem, Helena e Peleu retornam a astronave em busca de ajuda. Um mistério ainda maior os aguarda. Nessa jornada, enfrentam pântanos repletos de insetos e animais estranhos, calor sufocante, criaturas inusitadas como as outrora pacificas nantras, caranguejos elétricos e a necessidade de superação a cada instante.

O cenário se transforma quando enfim chegam à astronave e a paisagem do acampamento fica para trás. Na imensidão da Nômade, falhas elétricas, escuridão, frio, ambientes de gravidade zero, pseudróides*, túneis escuros e máquinas que surgem inesperadamente, entre outros elementos, são apenas alguns dos novos desafios que terão que enfrentar. O que teria acontecido? É o que precisam descobrir. 

Essa é também uma história sobre crescer, assumir responsabilidade, respeitar o meio ambiente e as criaturas existentes. A cada dificuldade, a superação torna-se o foco da jornada. A narrativa poderia ter se estendido e aprofundado mais, caberia perfeitamente e senti falta disso em alguns momentos do desfecho, no entanto, nada que prejudique uma boa leitura. Mesclar o mais inóspito de uma floresta e seus desafios com o cenário de uma nave a ser explorada como nunca antes pelos personagens é algo que me chamou atenção e, como já comentei no inicio da resenha, também gostei muito da linguagem da narrativa, adequada ao leitor a que se destina, mas sem fugir de contextualizar termos, conceitos e idéias que o gênero pede. Uma aventura para agradar e despertar a curiosidade do jovem leitor, além de valorizar o gênero na formação do gosto pela leitura.  Recomendo.

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Pseudróides – gostei imenso destas máquinas, corpos artificiais de aparência completamente fiel a realidade, na verdade, corpos sobressalentes comandados pelas mentes dos tripulantes da nave (ou uma vida extra, como bem explica Helena). Isso acontece quando seus corpos estão incapacitados, aguardando dentro de alguma bolha de recuperação. Em alguns momentos, achei-os extremamente sombrios, imaginem, apresentam uma aparência completamente normal quando ativos, mas desativados, parecem mortos, só reconhecidos pelos olhos, vazios como pode ser uma tela vazia.

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