11 de out. de 2011

Literatices: de menina-moleca-princesa à eterna leitora



Crianças. Algumas, eternamente. Outras, escondidas dentro do adulto em cada um, algumas vezes revelam sua face. Uma face de risos, de alegrias, mas também de medos, insegurança, de experimentação, de peraltices e molecagem. Afinal, são crianças e, felizmente, não precisam ser “definíveis”. 12 de outubro é um dia comum, mas é também o “dia das crianças” e o dia de comemorar minha chegada a esse mundo, gosto de escrever especialmente para essa data. Mas esse texto não é sobre o presente, surgiu inspirado por uma foto. Uma imagem panorâmica da casa onde nasci. Das imagens resgatadas, a menina leitora reclamou: ainda estou aqui. Confesso que adoro textos memorialistas, então, aproveitando a semana das crianças, vou resgatar a caixinha de memórias dessa guria que me espia na fotografia.



Memórias leitoras, esclarecendo. Nunca fui uma leitora convencional e lia muitas coisas além dos livros “indicados”, aliás, que sorte a minha. Destas leituras, escolhi algumas especiais para comentar.

Claro, seria impossível que eu me lembre de todos os livros que marcaram minha infância, ler, como já disse em outras ocasiões, sempre foi parte dos meus dias, entre uma infância descalça em chão de terra ou no topo das árvores, páginas e letras sempre estiveram comigo. Quem nunca leu escondidinha lá no galho mais alto do pé de mangueira não sabe o que deixou de sonhar. Ler à sombra, deitada no chão fresquinho, também era uma viagem ao universo único das letras e da imaginação. E sim, sou mesmo meio moleca e pela prática, acredito que literatura não tem idade.

Meus livros até que sobreviviam bem, considerando por onde andavam. Poucas vezes me lembro de sentar em um local convencional para ler. Vem daí minha visão de que livros não são objetos sagrados. Ainda que amassados, rabiscados ( é, criança gosta de escrever em seus livros sim, é quase um “compartilhar” da autoria) são livros lidos e  amados.

A primeira coisa que notei, nessa viagem ao passado, foi a presença da princesa. Todas as meninas são princesas. Clichê, tenho que concordar, mas inegavelmente sonhei em ser princesa. Como menina, as princesas me fascinavam. Todas elas: aquela que nasceu primeiro na gota de sangue na brancura da neve, a que sofria calada a espera do príncipe. A que dormia... dormia enquanto ele não vinha. Algumas que não aceitavam uma ervilha em seu leito, outras que vestiram peles de asno e ainda assim, brilhavam em vestidos de sol... dos momentos bucólicos aos instantes sombrios, que eu nem sempre percebia claramente e que os contos de fadas são tão mestres em construir, foram tantas faces diferentes e ao mesmo tempo, tanto em comum nessas garotas em seus castelos, em seus príncipes e reinos distantes.

Detalhe? Em uma casa onde as outras crianças são irmãos, ou seja, os infames “meninos”, não é lá muito fácil sobreviver sendo princesa... Então, a princesa não poderia ser muito da “realeza”. E era hora de abrir espaço na estante para os livros “de meninos e homens”. Adequados? Que importa. Literalmente, amava Conan, o bárbaro, (não, não vou comentar das garotas seminuas a espera de socorro, de certa forma, seriam também princesas a espera do príncipe nem tão encantado) Tex Willer, o ranger destemido que desbravava o oeste e enfrentava, de bandidos convencionais ao sobrenatural, sempre ao lado de Kit Carson, o herói comilão e brincalhão. Verdade é que o profundo senso de justiça do herói da camisa amarela me fascinou. E, claro, minhas aventuras favoritas com o ranger eram as sobrenaturais.

Ainda no universo da vida agreste das pradarias, o gênero western teve muito espaço em minhas leituras. Os faroestes de bolso, com seus heróis solitários, bandidos cruéis ou cheios de honra, xerifes, vilões, damas elegantes e outras nem tanto. Rainhas dos saloons, cantoras ou fazendeiras, algumas se tornavam protagonistas e heroínas, outras, ainda a espera do príncipe. (Nesta altura, preciso deter as palavras e reconhecer, não é fácil ser menina e leitora e escapar do eterno complexo da espera do príncipe, mesmo não sendo o tema do texto, ele me obriga a destacar isso)  

Que falta me fizeram livros com heroínas, não havia parado para pensar nisso, acho que entre as figuras femininas mais fascinantes que conheci nos livros, uma que sempre me pareceu muito insana, mas sempre querida, foi a complexa Alice. Eu li Alice no quintal, olhando alguns formigueiros e não pude deixar de imaginar como seria sendo Alice no reino das formigas. Lembranças boas. Ah, e também a super contente (e chata :P) Pollyana e, claro a inspiradora Bêlit, a Rainha da Costa Negra singrando os mares com meu herói favorito. Não lembro muito de outras personagens femininas, ou seja, posso até me lembrar depois, mas isso comprova que não foram tão significantes.

Um outro universo que vivenciava nas leituras de menina foram os quadrinhos, principalmente, das revistas do gênero terror. Spektro, Calafrio e Kripta, mais especificamente, além de algumas outras que não me  lembro agora, circulavam muito em casa. E eu, já era viciada em leituras, devorava todas. Monstros, criaturas horripilantes, extraterrestres, fantasmas, vampiros e lobisomens, entre outras criaturas, circulavam por cemitérios, mansões, pântanos, campos, os cenários eram muito variados e sempre, interessantes. Adoráveis HQs de terror.

Em outro texto em tom memorialista que escrevi, já comentei sobre Naturama, uma enciclopédia do mundo animal e o Manual do Escoteiro Mirim, eram leituras constantes em casa, os livros de todos nós, digamos assim.  Também já contei sobre as conversas em torno da literatura oral fantásticas e alguns livros especiais, tais como  A volta ao mundo em oitenta dias, A Ilha Perdida, Éramos Seis e O Pequeno Príncipe, A Metamorfose. Apenas para reforçar que cada um deles, me trouxe algo de especial, de diferente.

Parece-me impossível comentar os livros que nos marcaram definitivamente, quando as teclas já se encaminham para o final, lembro-me da Cabana do Pai Tomás, outro livro que me emocionou de forma definitiva. Qual a minha idade nessas leituras? Comecei a ler sozinha aos seis anos ( antes lia como ouvinte) e nunca mais parei. Eu lia, simplesmente, todos os dias.

Um dos livros que jamais esquecerei... teoricamente, eu já o esqueci. Simplesmente não me lembro do título, da historia, da capa, apenas que um garoto sentia um imenso vazio, um buraco dentro dele que parecia que iria engoli-lo. Se não me engano, de fato o engolia em algumas situações. Era dolorido. E havia, (me lembro bem do desenho lá pelos páginas tantas), uma metáfora da laranja, como cada gominho simbolizava algo. Li na escola, peguei na biblioteca, daqueles indicados para a idade mesmo, mas infelizmente, é um livro que não me lembro, que não sei qual é, a historia que não me marcou, mas aquela descrição do vazio, aquela sim. Acho que já era chegada a melancolias mal saída das fraldas. E entre brincadeiras e pensamentos, literatura já me salvava.

Era parte da diversão, da infância, das brincadeiras. E desde então, ler é tão importante quanto respirar. Com o tempo, conheci outros gêneros, tive outras experiências de leituras, mas entre as melhores lembranças da infância, os livros têm um cantinho mais do que especial, foram essenciais.

Acho que o mais importante que aprendi, desde as primeiras leituras, é que o universo das páginas pode nos trazer risos, e muitas vezes, lágrimas. E que em algum lugar, alguém escreve de sentimentos e sonhos que somente nossa alma conhece. É o fascínio da literatura. E que feliz eu fui por tê-la desde cedo em minha vida.

2 comentários:

Unknown disse...

Sustentar um blogger não é fácil, ainda por cima, se este blogger é de Literatura. O À LitFan é um blogger sério em que se sente o amor e a persistência pela Literatura. Parabéns Tânia Souza! Um abraço,

Letícia Reis
www.literacontos.blogspot.com

Anônimo disse...

Oi Letícia, muito obrigada pela visita especial, com certeza, mesmo com alguns períodos de pausa, esse blog é meu cantinho favorito. Que bom que gostou. Bjus

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